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A mercantilização dos movimentos sociais e seus mecanismos ilusórios

Foto do escritor: csmnewscsmnews

A democratização do conhecimento foi um acontecimento que, de fato, promoveu mudanças significativas na maneira como a informação é produzida e difundida na sociedade, embora possa debater-se em que grau isso ocorreu efetivamente. Assim, devido a tal acessibilidade do saber, é bastante comum deparar-se com comentários, em especial no universo das redes sociais, de pessoas que se consideram grandes conhecedoras de determinado assunto. Contudo, será mesmo que é possível que, através da leitura de algumas poucas postagens de terceiros e falas entrecortadas, possamos formar opiniões concretas e inalteráveis a respeito de determinado tema? E quando esse tema se refere a questões mais complexas, como movimentos sociais?



O capitalismo, desde sua consolidação, modificou drasticamente as estruturas sociais, inserindo, inclusive, outras, de modo a reforçar o seu poder e influência. A globalização, por exemplo, é um processo que favoreceu o desenvolvimento desse sistema em larga escala, possibilitando e facilitando a comunicação entre países, acelerando os processos produtivos e massificando os mecanismos de venda de produtos e serviços. Consequentemente, tudo passou a ser visto e tratado como mercadoria, visto que, a todo o tempo, somos bombardeados por uma quantidade imensa de anúncios e propagandas. Contudo, quantidade não é sinônimo de qualidade. E um dos principais problemas decorrentes disso é que tópicos extremamente profundos, como o racismo e o feminismo, passaram a ser abordados com superficialidade e negligência.



Apoiar um movimento social não é sobre simplesmente se afirmar apoiador, muito menos sobre adquirir canecas e camisetas temáticas com dizeres que sugerem apoio à causa animal ou antirracista, por exemplo, mas é essa a noção que a cultura do consumo nos transmite, quando, na realidade, a militância está longe de ser um produto que se possa adquirir. Entre tantos outros aspectos, estão envolvidos o conhecimento, o esforço, a atitude, a mobilização. Talvez por conta da disseminação dessa compreensão equivocada, os indivíduos, na maior parte das vezes, desenvolvem conceitos deturpados acerca dos mais variados assuntos, o que os leva à frustração, à desinformação ou, cruamente, à promoção de ataques de ódio em massa. Afinal, é muito fácil nutrir medo ou incertezas quando não há contatos reais com determinada pessoa, determinada pauta ou determinado objeto.





A teórica feminista Bell Hooks, em seu livro ‘’O feminismo é para todo mundo’’, desmistifica, de forma bastante clara e objetiva, os mais variados tabus construídos em torno do movimento feminista. Em uma das passagens de sua obra, a autora analisa, criticamente, o modo como se deu a disseminação do feminismo na sociedade atual: ‘’Ironicamente, uma das conquistas do feminismo contemporâneo é que todo mundo está mais aberto para discutir gênero e as preocupações das mulheres, mas, de novo, não necessariamente por uma perspectiva feminista.’’ Assim, a melhor maneira de se aprender sobre um tópico, seja ele o feminismo ou qualquer outro, é através de verdadeiros especialistas: lendo livros, artigos e revistas; escutando podcasts e assistindo a programas de televisão produzidos por eles, por exemplo.



Por conseguinte, debater abertamente sobre as consequências da acessibilidade à informação nos moldes capitalistas, a qual corrobora com a mercantilização do conhecimento, em especial no meio tecnológico, não é negar os benefícios do combate à elitização da cultura e do saber, muito pelo contrário. É, na verdade, avaliar esse processo criticamente, buscando por novas possibilidades da promoção da educação em larga escala, de uma forma genuína, bem como estimular o pensamento crítico do indivíduo privilegiado que possui acesso a tais recursos educacionais excludentes.


Texto por: Gabriela Queiroz Gomes Galdino

Post: André Tomaz

 
 
 

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