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Coronavírus: Ameaça aos povos indígenas

Foto do escritor: csmnewscsmnews

Os povos indígenas são mais vulneráveis à Covid-19.

A fragilidade do sistema de atendimento médico destinado aos índios, vinculada à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) faria pressupor drama — e é o que recente levantamento estatístico comprova. A taxa de mortalidade da Covid-19 entre indígenas (número de óbitos por 100 mil habitantes) é 150% mais alta do que a média brasileira e 19% mais elevada do que a registrada somente na região Norte, a mais crítica entre as cinco regiões do país. O socorro negligenciado é apenas a ponta final de uma engrenagem fadada a fazer circular o vírus, dada a proximidade com os centros urbanos e a invasão de áreas protegidas por madeireiros e garimpeiro...


Depoimentos:

O povo Potiguara improvisou os próprios bloqueios para isolar a comunidade e evitar que o vírus avance sobre os indígenas: "Nossa aldeia fica muito próximo da cidade,então,o nosso pessoal pega na cidade e leva a doença para a aldeia.Por isso,decidimos fazer os bloqueios" - Cacique Sandro Gomes Barbosa,46 anos. Líder dos índios potiguaras no litoral norte.

"Hoje, o melhor remédio que temos é o isolamento social. É o que a gente passa para o nosso povo.Paramos tudo na aldeia: os jogos de futebol,as danças,tudo. Estamos dentro de casa, é estressante, mas, se não tivéssemos fechado o acesso às aldeias,a situação estaria muito pior"- explica o Cacique.


O vírus coloca em risco parte considerável da cultura e dos princípios das etnias do país, já que os anciãos são grupo de risco e os guardiões e propagadores da história desses povos: “São duas perdas.Primeiro, é uma parte de você que se vai quando se perde o avô, o pai, o idoso. A dor é imensurável. Além de perder pessoas importantes, estamos perdendo nossas bibliotecas, nossas memórias, nosso ser enquanto povo indígena,É como o incêndio no Museu Nacional, em que tudo que estava registrado está pegando fogo, virando cinza. É isso que nos preocupa”- diz Angela Kaxuyana,da Coordenação das Organizações dos Indígenas Amazônia Brasileira (COIAB) e articuladora da Fundação Nacional do Índio (Funai) na região amazônica.


“É um número muito grande, considerando que somos apenas 1% da população do Brasil. É absurdo, alarmante. A maioria tem sido de mulheres e homens mais velhos. Estamos ficando órfãos. Está indo com eles a sabedoria, nossa história, memória e resistência. Também perdemos lideranças que tiveram papel importante na luta da resistência do movimento indígena. Uma parte do movimento também se vai com a perda dos anciãos. É uma perda irreparável para um povo”, alerta Angela Kaxuyana.

“É uma outra violência do Estado. Deixar-nos no anonimato é uma tentativa de esconder a situação real e alarmante em que a população se encontra. É uma forma de colaborar para o genocídio dos povos indígenas”, denúncia Angela Kaxuyana. Sobre garimpeiros ilegais que aproveitam a crise para invadir territórios indígenas:


"A gente já vem fazendo as denúncias há algum tempo. O que está acontecendo no Brasil é um verdadeiro descaso com os povos indígenas", afirma. "Esse governo está condenando os indígenas à morte, porque, com a desculpa do coronavírus, não estão fazendo a fiscalização.Só que a falta de fiscalização leva o coronavírus às reservas e à morte dos indígenas"- Neidinha Surui, indigenista que desde 1992 lidera a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé,e casada com o cacique Almir Suruí do povo Paiter-Suruí.


“Nós estamos aqui perdendo vários Kokama, estamos sofrendo muito com tantas perdas. Nenhum órgão estava preparado para essa pandemia”, aponta Edney Samias, cacique geral dos Kokama do Alto Solimões. "Tio Anselmo morreu e a família só foi saber depois de dois dias. Ele foi registrado como "pardo" porque os funcionários do hospital em Tabatinga não sabem quem é indígena ou não.Eles não avisaram a família, mesmo com os filhos diariamente esperando notícias. A Sesai não destacou assistente social para acompanhar esses casos".



Alunas: Paula Barros e Nathália Thamira

Redatoras: Gabriela Miranda e Júlia Fernandes

Design por: Laura Oliveira

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