(Imagem da capa por Hadna Abreu)
O total do número de mortes dentro de casa na pandemia aumentou cerca de 10,4% entre os dias 16 de março e 30 de abril, quando ocorreu o início do isolamento social no Brasil. Esses valores foram divulgados no dia 7 de maio pelos cartórios. Consequentemente, o número de casos de violência doméstica também aumentou drasticamente.
Desde o início da pandemia, o número de denúncias feitas pelo canal Disque 180 aumentou 17,9% em todo o país no mês de março, se comparado com o mesmo período no ano de 2019. Em abril o crescimento foi de 37,6%. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) apontaram que o feminicídio cresceu 22,2% em março e abril de 2020 quando comparados com o mesmo período período em 2019. Com as vítimas estando em casa junto com o seu agressor, as denúncias diminuíram em todo o país.
Com isso, foi promulgada a Lei 14.022/20, que apresenta medidas para enfrentar a violência doméstica e familiar neste período de quarentena. É previsto na lei que a prevenção dessas agressões deve ser considerada serviço essencial, porque as consequências das agressões podem levar as vítimas a óbito.
A Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul (SSP/RS) indicou uma queda de 45% no número de feminicídios em maio no estado, porém a violência doméstica continua assombrando a população feminina gaúcha, se agravando ainda mais durante a pandemia do novo coronavírus. Os assassinatos de mulheres motivados por questões de gênero tiveram um aumento de 34,4% no Rio Grande do Sul desde janeiro se comparados com os os registros oficiais dos cinco primeiros meses de 2020 com o mesmo período do ano passado.
Segundo o Fórum Brasileiro da Segurança Pública, em São Paulo teve um aumento de 46% nos casos de feminicídios no início da quarentena. A advogada especialista em casos de violência contra mulher explica que os casos de feminicídio se agravaram mais na quarentena, pelo fato de que a rede de apoio está fechada, o que dificulta a tentativa de registrar os casos de agressão.
O site "Ecoa" recolheu depoimentos de vítimas de violência doméstica durante o isolamento. A seguir, replicamos alguns dos depoimentos:
1°: Angela, de 31 anos, moradora de São Luís, Maranhão, decidiu, correndo todos os riscos, pedir proteção em meio ao isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus. Encontrou a proteção na Casa da Mulher Brasileira, uma instituição que existe desde 2017 na capital maranhense.

“Toda vez meu marido chegava em casa me agredindo. Isso acontece já de muito tempo, e era sempre na frente dos meus filhos”, afirmou Angela. Na Casa da Mulher Brasileira, ela fez um relato das agressões. “E aquilo ali tudo já foi me coisando e eu não aguentei mais, e resolvi pedir ajuda aqui. Isso já faz tempo, tempo demais. A agressão dele é mais quando ele bebe. Quando ele tá bonzinho, não fala essas coisas, só mais quando está alcoolizado com a bebida”.
2°: O desabafo foi feito por telefone por Renata Albertin, cofundadora do Mete a Colher, rede colaborativa que ajuda mulheres a saírem de relacionamentos abusivos. "Ele nunca tinha tido uma atitude parecida. Com a pandemia, a quarentena afetando nossa vida financeira, o estresse, a preocupação com grana... Acho que tudo isso fez com que ele perdesse a cabeça". (Imagem por Diana Carvalho)
3°: “Eu queria tanto que desse certo, que eu ceguei para tudo. Aí, começou aquela fase de que as roupas que eu vestia não eram adequadas. Parei de usar brinco. Batom vermelho era coisa de vagabunda. Pintar a unha de vermelho, então… Nossa! Era o fim do mundo.” Alice Verdade, 37 anos.
Fontes:
Repórteres de campo: Maria Eduarda Maciel, Emanuel Tarso e Luísa Theilacker.
Redatores: Cecília de Castro e Tássia Fernandes.
Design por Laura Helena
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